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Controlando você
Em um porão escuro, cercado de paredes a prova de som, um homem que sabia demais estava preso.
Ao seu redor, figuras se revezavam nas perguntas que lhe eram feitas e que, em sua maioria, eram sobre como ele conseguiu chegar tão perto da verdade.
A primeira figura tinha uma voz grossa, parecida com um locutor de telejornal.
-O que mais você descobriu sobre nós? Sobre quais assuntos teve acesso nesse tempo que investigou as nossas vidas secretas?
O homem, algemado a uma cadeira de metal, mal conseguia distinguir de onde viera o som, pois estava com os olhos inchados de tantos socos que tinha recebido.
- Eu não descobri muita coisa! Por favor, me deixem ir! Eu esqueço tudo sobre esse assunto. Não vale a pena esse conhecimento para mim. Era apenas curiosidade.
Eu sou estudante de jornalismo. Sempre gostei de teorias conspiratórias, mas nunca acreditei nelas. Mas parece que é tudo verdade...
-É claro que é tudo verdade! Somos nós quem espalhamos elas. Ao mesmo tempo em que dizemos que é tudo mentira!
-Você é o responsável por espalhar notícias sobre o quê? - perguntou o homem preso.
- Bom, já que você não vai sair daqui mesmo, eu vou te contar! Eu forneço as pesquisas sobre qualquer assunto. Manipulo os índices de qualquer amostragem feita. Sempre para facilitar certas mudanças de opinião. Depois do que eu falo, pessoas compram mais e mais... Se já lá o que for. Não são todos os que escutam que aceitam minhas idéias, mas a grande maioria faz sem nem pensar.
-E isso é o suficiente para aumentar vendas?
-Sim! Claro! As pessoas compram e só muito depois percebem que aquilo que adquiriram não era tão maravilhoso quanto no comercial que assistiram. Mas aí já é tarde demais. Já criamos outra pesquisa que mostra que outro produto é melhor do que o anterior. É uma eterna brincadeira.
-Com isso eu acabo criando novos consumidores a todo momento.
-Muito bem chega de papo! – disse outra figura nas sombras, tossindo junto com as palavras uma certa impaciência – Quero saber o que ele sabe, e não dar mais informações.
-Certo! – disse uma outra pessoa, que surgiu da escuridão trajando uma roupa vermelha e amarela. – E quanto à indústria alimentícia? O que você sabe?
- Eu descobri que os alimentos que são vendidos são, em sua maioria, feitos com fórmulas que prejudicam a saúde, para que as pessoas tenham que gastar dinheiro com remédios e médicos, gerando mais ganhos para os hospitais.
-É! Você chegou bem perto mesmo. Não fosse o hacker que contratamos para vigiar a internet, esse dossiê que você montou iria nos complicar. Aquele seu blog de denúncias iria pro ranking 1 do Blogblogs.
-ARGH! Vocês perdem muito tempo precioso com ele. Eu quero informações! – E quanto aos produtos que causam vício como cigarro, bebidas e programas de auditório das tardes? O que você descobriu?
-Que as campanhas que vocês fazem contra essas coisas na verdade tem efeito contrário. Quanto mais se fala contra, mais e mais pessoas com baixa auto-estima entram para as filas de viciados. Dizer que uma coisa não faz bem só faz aumentar a curiosidade sobre a mesma. Dizendo que é ruim, muitos irão experimentar para provar para si e para outros que são mais fortes, e falharão miseravelmente na tentativa. E engrossarão as filas dos hospitais, comprarão remédios, farão planos de saúde, gastarão recursos do governo em campanhas contra os mesmos produtos que estavam dependentes dias atrás.
-Isso! Isso meu garoto! Belo trabalho de investigação. Mas faltou um detalhe no seu dossiê que é o que nos dá maior orgulho.
-O quê?
- O sofrimento! Gostamos de ver as filas de doentes nos hospitais sem atendimento, as pessoas drogadas nas ruas, rastejando por migalhas para não morrer de fome, as crianças nos sinais pedindo esmola para sustentar vícios de seus pais, as guerras entre polícia e bandidos, que todos os dias mancham os jornais e ruas de sangue.
-Gostamos disso, e trabalhamos para que mais e mais desse sofrimento seja criado todos os dias. É isso que nos alimenta. É isso que nos faz ficar mais fortes.
- Como assim? Quem são vocês?
AHiAHuAHuAHuiAuiAHuiAHAHahahhahIahUIahUIahiahahIUhauIhuihUahUIahUIahUIahi
UahUIhauihauihauiHauiHiHaiHaUIHauHaHauhauhaUIahahaHUAHahIUahUIahhAhUahaAU
shAhahihUahuUahihuIahuiahhauuahuahuiahuiHaHaHauIahuIahUahUIahuHAuhIahuiau
Uma gargalhada histérica de todos os interrogadores encheu a sala de ecos.
Todos começaram a sair da sala, enquanto o homem preso na cadeira gritava.
-Isso não continuará pra sempre! As pessoas vão perceber que estão sendo manipuladas! Isso terá um fim!
O último a sair se volta para ele, e com um sorriso enorme diz uma última frase antes de apagar a luz.
-Contamos com a eterna estupidez humana.
"Vocês que fazem parte dessa massa..."
Ao seu redor, figuras se revezavam nas perguntas que lhe eram feitas e que, em sua maioria, eram sobre como ele conseguiu chegar tão perto da verdade.
A primeira figura tinha uma voz grossa, parecida com um locutor de telejornal.
-O que mais você descobriu sobre nós? Sobre quais assuntos teve acesso nesse tempo que investigou as nossas vidas secretas?
O homem, algemado a uma cadeira de metal, mal conseguia distinguir de onde viera o som, pois estava com os olhos inchados de tantos socos que tinha recebido.
- Eu não descobri muita coisa! Por favor, me deixem ir! Eu esqueço tudo sobre esse assunto. Não vale a pena esse conhecimento para mim. Era apenas curiosidade.
Eu sou estudante de jornalismo. Sempre gostei de teorias conspiratórias, mas nunca acreditei nelas. Mas parece que é tudo verdade...
-É claro que é tudo verdade! Somos nós quem espalhamos elas. Ao mesmo tempo em que dizemos que é tudo mentira!
-Você é o responsável por espalhar notícias sobre o quê? - perguntou o homem preso.
- Bom, já que você não vai sair daqui mesmo, eu vou te contar! Eu forneço as pesquisas sobre qualquer assunto. Manipulo os índices de qualquer amostragem feita. Sempre para facilitar certas mudanças de opinião. Depois do que eu falo, pessoas compram mais e mais... Se já lá o que for. Não são todos os que escutam que aceitam minhas idéias, mas a grande maioria faz sem nem pensar.
-E isso é o suficiente para aumentar vendas?
-Sim! Claro! As pessoas compram e só muito depois percebem que aquilo que adquiriram não era tão maravilhoso quanto no comercial que assistiram. Mas aí já é tarde demais. Já criamos outra pesquisa que mostra que outro produto é melhor do que o anterior. É uma eterna brincadeira.
-Com isso eu acabo criando novos consumidores a todo momento.
-Muito bem chega de papo! – disse outra figura nas sombras, tossindo junto com as palavras uma certa impaciência – Quero saber o que ele sabe, e não dar mais informações.
-Certo! – disse uma outra pessoa, que surgiu da escuridão trajando uma roupa vermelha e amarela. – E quanto à indústria alimentícia? O que você sabe?
- Eu descobri que os alimentos que são vendidos são, em sua maioria, feitos com fórmulas que prejudicam a saúde, para que as pessoas tenham que gastar dinheiro com remédios e médicos, gerando mais ganhos para os hospitais.
-É! Você chegou bem perto mesmo. Não fosse o hacker que contratamos para vigiar a internet, esse dossiê que você montou iria nos complicar. Aquele seu blog de denúncias iria pro ranking 1 do Blogblogs.
-ARGH! Vocês perdem muito tempo precioso com ele. Eu quero informações! – E quanto aos produtos que causam vício como cigarro, bebidas e programas de auditório das tardes? O que você descobriu?
-Que as campanhas que vocês fazem contra essas coisas na verdade tem efeito contrário. Quanto mais se fala contra, mais e mais pessoas com baixa auto-estima entram para as filas de viciados. Dizer que uma coisa não faz bem só faz aumentar a curiosidade sobre a mesma. Dizendo que é ruim, muitos irão experimentar para provar para si e para outros que são mais fortes, e falharão miseravelmente na tentativa. E engrossarão as filas dos hospitais, comprarão remédios, farão planos de saúde, gastarão recursos do governo em campanhas contra os mesmos produtos que estavam dependentes dias atrás.
-Isso! Isso meu garoto! Belo trabalho de investigação. Mas faltou um detalhe no seu dossiê que é o que nos dá maior orgulho.
-O quê?
- O sofrimento! Gostamos de ver as filas de doentes nos hospitais sem atendimento, as pessoas drogadas nas ruas, rastejando por migalhas para não morrer de fome, as crianças nos sinais pedindo esmola para sustentar vícios de seus pais, as guerras entre polícia e bandidos, que todos os dias mancham os jornais e ruas de sangue.
-Gostamos disso, e trabalhamos para que mais e mais desse sofrimento seja criado todos os dias. É isso que nos alimenta. É isso que nos faz ficar mais fortes.
- Como assim? Quem são vocês?
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Uma gargalhada histérica de todos os interrogadores encheu a sala de ecos.
Todos começaram a sair da sala, enquanto o homem preso na cadeira gritava.
-Isso não continuará pra sempre! As pessoas vão perceber que estão sendo manipuladas! Isso terá um fim!
O último a sair se volta para ele, e com um sorriso enorme diz uma última frase antes de apagar a luz.
-Contamos com a eterna estupidez humana.
"Vocês que fazem parte dessa massa..."
